Alisson Guerradr Leal
~Eu sou uma hora no silêncio~
Analisando o meu percurso na graduação em Teatro, deparo com as disciplinas que teve como foco o corpo (Consciência corporal1, Expressão corporal I2, Circo3, Dramaturgia I4 e Interpretação e Atuação IV5), as quais me sentir “confortável” para expressar o que me corroía por dentro (a depressão), tal feito que não conseguia dizer com palavras. Por muito tempo as aulas dessas disciplinas eram o meu refúgio e ao mesmo tempo a minha ruína, pois nelas tive que encarar as minhas questões de frente e por meio do meu corpo tentei entender e resolver as mesmas.
1Consciência Corporal: Permitir explorar e conhecer o meu corpo, em uma difícil e prazerosa investigação do meu ser. Dancei a minha dor;
2Expressão corporal I: Sentidos dilatados – troca de energia, algo mais sensório podendo ver cores no movimento, sentir o ar mondando o meu ser. Toque. Superando alguns traumas e aceitando o meu corpo;
3Circo: Trabalhei com memoria no tecido – abraço. Tema: Refúgio;
4Dramaturgia I: Texto criado a partir de partituras corporais criadas em sala de aula. Sinopse: O Setor são quadros que se passam dentro de um hospital psiquiátrico, com Setores e quartos onde história são contadas com palavras e/ou com ações físicas. O tempo se perde dentro do hospital que representa a guerra que se passa no inteiro do Ator 1, o principal da história. A dor, o sofrimento, o silêncio, o abafo e tantas outras características que a personagem sofre, mas o mundo continua, e ele ser ver perdido nele mesmo.
5Interpretação e Atuação IV: Continuação e descoberta daquilo que tremia. A dor se manifestou como um ser em três. Palpável, materializado, divido, diferente, acumulado, construindo a própria existência.
Após análise do meu percurso na graduação, escolhei como tema do meu TCC – Trabalho de Conclusão de Curso: “O Demônio do Meio-Dia”: Tornando Corpóreo o Intangível [A subjetividade de um HiperDramático]. A princípio o tema desta pesquisa pode assustar algumas pessoas, mas do que elas têm medo? Para alguns, esse tema é um tabu, para outros, fonte de pesquisa. A depressão (o mal do século) cada dia mais é reconhecida pelo o seu “mal” e cada vez atingi mais pessoas.
Em vista disso, incorporo nesta pesquisa a definição que Andrew Solomon (autor do livro “O Demônio do Meio-Dia – Uma Anatomia da Depressão”) criou para se referir a Depressão. Esse termo (O Demônio do Meio-Dia) tira a figura do demônio6 do obscuro e deixa ele evidente, a luz do dia como algo constante, que você não pode correr e nem esconder dele.
6Segundo a crença cristã, o demônio pode possuir alguém, assumindo inclusive o senhorio sobre o corpo desta pessoa, manipulando suas atitudes e palavras e influenciando fortemente os seus pensamentos.
Mas como falar da depressão se as palavras não são suficientes para expressar o que essa doença faz no Ser? Por essa razão torno corpóreo7 o que é intangível8, numa singular (da minha) subjetividade9 com este corpo Hiperdramatico10 que habito.
7Corporal;
8Impalpável;
9O espaço íntimo do indivíduo;
10Termo dado a mim na avaliação final de Consciência Corporal.
Busco com esta pesquisa destacar a importância da arte, especificamente o teatro, a expressão corporal e a gravidade da depressão. Apresentando assim no final desta pesquisa uma performance teatral pela qual me expresso corporalmente e subjetivamente, para isso, utilizo as Ternas11 como método de acessar pontos específicos do meu corpo e das minhas emoções [os sintomas da depressão são o modo que a emoção se expressa], partindo da minha experiência pessoal com essa doença e complementando com bases teóricas a esta pesquisa.
11Ternas são atividades sensório expressivas; uma pedagogia para preparar o corpo no desempenho da expressão. Trabalho corporal no campo da Estética, Artes, Ensino e Pesquisa. Foca a ação, a sensibilização do corpo, o conhecimento anatômico do movimento e a experiência do movimento pessoal e criativo. Numa abordagem somática cuida do bem-estar e da saúde do corpo, integrado nas suas dimensões emocionais e cognitivas. Envolve imaginação e memória, no contexto sociocultural e político do corpo. (MEIRA, 2018, p.).
~Não sou só um e nem dois, sou três, sou vários perdidos em mim mesmo~
Coreografia Expressiva 04 de setembro de 2018
Respire em mim... fundo,
Para que eu respire... e viva.
E me abrace apertado para eu dormir
Suavemente segura por tudo que você dá.
Venha me beijar, vento, e tire meu fôlego
Até que você e eu sejamos um só,
E dançaremos entre os túmulos
Até que toda a morte se vá.
E ninguém sabe que existimos
Nos braços um do outro,
A não ser Aquele que soprou o hálito
Que me esconde livre do mal.
Venha me beijar, vento, e tire meu fôlego
Até que você e eu sejamos um só,
E dançaremos entre os túmulos
Até que toda a morte se vá.
– A Cabana. William P. Young. 2007. Pag. 216 e 217.
Coreografia Expressiva:
[escrevendo...]
O Grito abafado: Som que sai, que rasga. O som da dor, da alma deficiente que não sabe acusar aquilo que a perturba. O som desse grito me assombrou e ressoou em mim por semanas, o meu corpo pulsava, sentia o meu rosto esquentar, [...] a noite desmoronei e reduzir a minha insignificância.
Aberto demais, vulnerável para qualquer vírus ou bactéria. Será que essa exposição nesse tempo árido me tornará mais forte? Quando somos expostos algum vírus/bactéria ou qualquer outra substancia que possa nos adoecer, o nosso sistema homológico tem que está forte suficiente para combater esse mal. Mas quando o nosso corpo não está preparado e somos expostos a esse mal? Como criar anticorpos já sendo contaminado? Infelizmente não existe uma vacina para esse mal (depressão).
Aberto demais, vulnerável para qualquer vírus ou bactéria. Será que essa exposição nesse tempo árido me tornará mais forte? Quando somos expostos algum vírus/bactéria ou qualquer outra substancia que possa nos adoecer, o nosso sistema homológico tem que está forte suficiente para combater esse mal. Mas quando o nosso corpo não está preparado e somos expostos a esse mal? Como criar anticorpos já sendo contaminado? Infelizmente não existe uma vacina para esse mal (depressão).
EXPURGAÇÃO, sentir expurgado, sentir leve, sentir livres naquele momento. Mas ao decorrer da semana não conseguia desvincular o eco que esse grito deixou em mim. O que quer mais? O que ainda resta a sair? Como é possível existir acúmulos escondidos?
Isso incomodou o silêncio que habita em mim! Não conseguia falar, parecia que a minha boca foi selada, um escudo de espinhos formou em volta do meu ser, afastando assim, todos a minha volta. Será que isso é uma ferramenta que é assonada quando estou tratando algo particular para não me machucar mais? Me perdi no meu próprio universo, como um grão de área esquecido no fundo do mar.
Ela é a solidão dentro de nós que se torna manifesta e destrói não apenas a conexão com outros, mas também a capacidade de estar em paz consigo mesmo. SOLOMON pg. 15
A solidão me abraçou carinhosamente, sentir a sua forma rígida e fria me envolver cada vez mais, me levando a mais profunda escuridão. Um lugar familiar, cheio de lembranças espalhadas, desfocadas, desformadas. Criando assim um ambiente a favor da miséria humana.
Afeto – amor: Segundo SOLOMON pg. 15: A depressão é a imperfeição no amor [...] Quando ela chega, destrói o individuo e finalmente ofusca sua capacidade de dar ou receber afeição [...] embora não previna contra a depressão, o amor é o que tranquiliza a mente e a protege si mesma.
[escrevendo...]
Coreografia Expressiva 21 de Agosto de 2018
Coreografia Expressiva 25 de setembro de 2018
Coreografia Expressiva 11 de setembro de 2018
Posturas de rasas - Encontro dia 18 de setembro de 2018
Encontro do dia 25 de setembro de 2018 pelo olhar fotográfico de Silvania
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